sábado, 28 de janeiro de 2012

Vai visitar o Uruguai ? Algumas dicas...

Infelizmente, para certos brasileiros o Uruguai e suas personalidades se limitam ao setor futebolístico: Forlán e Recoba talvez sejam os de maior destaque. Para alguns pode ser definido como uma simples “miniatura” da Argentina. Ainda pode ser lembrado por outros como a antiga Província Cisplatina, parte do Brasil durante a primeira metade do século XIX. Nada deixa um uruguaio mais nervoso que estas definições, no mínimo, equivocadas (imagine no máximo). Nessas férias estive visitando alguns parentes e conhecendo outros. Talvez se estivesse no auge da minha adolescência, por volta dos 15 anos, isso fosse o tédio materializado. Contudo não foi. Como esses parentes moram na fronteira sul do país, me incentivaram para conhecer o Uruguai.

Quando trabalhava com política latino americana, um dos países que me dediquei foi esse, além do Paraguai. Durante dois anos conheci, de longe, um país com uma cultura muito interessante, responsável por mesclar aspectos presentes tanto no Brasil quanto na Argentina e, ainda assim, ser único em diversas características. Fui ao Uruguai passar o réveillon e conhecer suas três principais cidades: Montevidéu, Punta del Este e Colônia del Sacramento. Uma é a capital da República, outra a capital de luxo e a última a capital histórica.  Todas são incríveis, mas Montevidéu tem algum encanto que me fascinou.... as pessoas são diferentes das que estou acostumado, nem melhores nem piores, só diferentes. Talvez seja o modo de lidar com os outros ou as roupas que usam... não sei.

Plaza independencia
Vou tentar esboçar aqui uma espécie de guia turístico básico pra quem pretende conhecer algum desses locais.  Alguns lugares são fundamentais para visitar em Montevidéu: a Plaza Independência com seu monumento ao herói nacional José Gervásio Artigas; o Teatro Solís; o Mercado del Puerto com sua variedade de carnes e arquitetura diferenciada; o estádio Centenário, palco da primeira final de Copa do Mundo; as praias e o rio da Plata através da Rambla (uma espécie de calçadão). Se tiver interesse em fazer um programa cultural, procure restaurantes que toquem Tango ou visite a cidade durante seu “pequeno” carnaval de 40 dias para conhecer o Candombe. Nessa época também tem os desfiles com as chamadas Murgas, um grupo que revesa ao cantar diversas músicas nacionais (aconselho muito !).

El Cuarteto de nos - Fonte dedica.la
Uma das coisas mais interessantes de Montevidéu é ver o interesse do seu povo em mostrar todos os aspectos de sua cultura ao estrangeiro. Fui numa banca que tinha variedades de livros, revistas, dvd's e o vendedor teve uma dedicação tremenda em me mostrar quais os melhores autores e cantores nacionais, além das revistas mais importantes e filmes mais conhecidos. De música as que gostei eram El Cuarteto de nos e Tabaré Cardozo. Já nos filmes comprei El Baño del papá, Cuarto de Léo e Viaje hacia el mar.  Já o réveillon, deixo um conselho: se for sair no dia 31, além de quase tudo estar fechado, existe uma tradição no pais jogar água da janela nas pessoas da rua. E ainda melhor, os alvos mais cobiçados são brasileiros e argentinos :) ! A noite, não existe um local especifico para jogar os fogos e bombas como no Brasil.... em todo canto dá pra ver quando soltam.

Casapueblo
Já a famosa cidade de Punta del Este é o local da “alta sociedade”.... a cidade parece uma Miami sul americana.... mansões em todo canto, lojas caríssimas e restaurantes elegantes. É difícil ver um carro mais simples passando na rua. Acho que talvez o meu tenha feito essa honra. Se for para lá, vale a pena conhecer La Mano, uma escultura de cinco dedos enormes saindo da areia. É muito interessante, mas só com muita sorte da pra tirar uma foto sem intrusos. Outro lugar muito legal é a Casapueblo, a enorme residência de Carlos Páez Vilaró que lembra o formato do mapa do Brasil. A cidade é bem peculiar se comparada com as demais do país, sendo amada ou odiada por quem visita, sem meio termo. 

Colônia - Fonte Wikipedia
Por fim, a cidade de Colônia é para quem se interessa em uma paisagem com casa antigas e bons cafés. A cidade foi fundada e disputada pelos portugueses ao longo dos anos. É nesse local que atravessamos o rio da Plata para ir em Buenos Aires, por cerca de 100 dólares se não me engano (se me engano, vou buscar corrigir). No centro histórico temos diversos museus e um belo farol com vista para o mar. Na minha opinião, é a cidade mais bonita do Uruguai... lembra uma mistura de Paraty-RJ com Tiradentes-MG. Ainda existem diversos locais interessantes pra conhecer nesse pequeno, porém rico país. Tem o ecoturismo no departamento de Minas e os Free Shop's em Aceguá e Rivera (interessados em compras, esses dois últimos são seu paraíso).

Com uma cultura muito mais vasta  e complexa que esses poucos parágrafos podem expressar, os uruguaios são um povo claramente feliz e satisfeito. Além disso, são muito liberais com questões como homossexualidade, eutanásia e religião. Por sinal, esse último aspecto é bem interessante... diferente dos demais países da América do Sul, o cristianismo não é forte no país, tendo poucas igrejas. O número de ateus e sem religião é bastante elevado. Sem dúvida vale a pena conhecer o Uruguai e constatar que ele é  muito mais que uma versão menor dos Argentinos... Para quem se interessar, deixo a dica para vcs....

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Copa de 1950 - As consequências que não queremos em 2014

No século XX alguns países latino americanos passaram por acontecimentos tristes que marcaram  sua história...Tais eventos, trágicos por si só, são um fardo para gerações posteriores. O Chile, por exemplo, passou por uma das piores ditaduras; Argentina também, além da Guerra das Malvinas e da crise de 2001-2002; Paraguai e Bolívia entraram numa das guerras mais sangrentas que se tem notícia, a chamada Guerra do Chaco... entre outros. Alguns de nós, brasileiros, vimos as consequências da ditadura civil-militar. Apesar de tudo, felizmente não foi da magnitude de outros países ao longo do século...

Cartaz da Copa de 1950
Aonde quero chegar ? no futebol, eu respondo.  Nossa ligação tão íntima e apaixonada por esse esporte torna todas suas glórias maiores do que são, aumentando também a verdadeira realidade das derrotas. Na Copa do Mundo de 1950, com a derrota do Brasil por 2x1 diante do Uruguai, os jogadores sentiram na pele a desagradável sensação de perder no nosso país. O Maracanã havia sido construído para essa Copa e o Brasil já era considerado campeão antes do próprio jogo. A pressão era ainda maior no dia da final, onde "apenas" 200.000 pessoas compareceram ! As críticas nos jornais realizaram uma verdadeira caça aos culpados, onde o esplêndido goleiro Barbosa foi condenado. Se alguns fossem informados ou lembrados desse momento, certamente tornariam o dia do jogo (16 de julho de 1950) como um dos mais trágicos de nossa história recente, por mais hipócrita que isso possa parecer.

Barbosa - Fonte Netvasco
Não pensem que odeio futebol... longe disso, sou um feliz torcedor do Fluminense que assiste sempre seus jogos. Apenas acredito que ocorreu um grande exagero nesse período. O pior nem é isso, pois realmente acho que isso pode acontecer novamente na Copa de 2014. Se tem algo que a história não deve nos ensinar é a atitude que tivemos diante de um jogo de futebol onde a maioria nada iria receber... onde poucos sofreram mais do que deviam. Muitos desses jogadores pararam de jogar futebol, outros nunca mais foram chamados para copa alguma. Moacir Barbosa teve depressão e se tornou um dos maiores injustiçados do futebol, saindo dos céus para o inferno em questão de segundos.

Telegrama da AUF
A maior lição que podemos tirar dessa história toda não está no Rio de Janeiro, em São Paulo ou muito menos no Brasil mas no próprio Uruguai. Os uruguaios foram um exemplo de companheirismo e amizade, onde muitos jogadores brasileiros encontraram amigos para o duro momento. No Jornal do Brasil, em 23 de julho de 1950, a Associação Uruguaia de Futebol publicou um telegrama realizando críticas à atitude da sociedade com a derrota, tida como descabida. Além disso, afirmavam que o afastamento de jogadores como Heleno eram sem sentido, tendo em vista as evidentes qualidades desse atacante. Terminam o texto com o seguinte trecho: "O caso não é de calamidade pública. A derrota do domingo pertence ao passado e para o futuro grandes triunfos [...] estão reservados aos brasileiros...". Eles estavam certos.

O cantor uruguaio Tabaré Cardozo realizou uma linda homenagem à Barbosa através de uma caprichada letra sobre essa situação de 1950. O refrão da música fala o seguinte: Cuida los palos Barbosa /  Del arco de Brasil / La condena del maracaná /  Se paga hasta morir. Para quem tiver interesse, a música se encontra logo abaixo, no fim do texto.

Os nossos oponentes sentiram a necessidade de iluminar a gravidade da situação, evidentemente prejudicial ao nosso tão aclamado futebol. Nossos pais e mães podem não ter dado valor à isso, mas temos de nos preocupar que isso não ocorra em 2014. Futebol é um jogo que possui uma mágica incrível... faz chorar e sorrir ao lado de pessoas que nem sabemos quem são ! Mas não podemos fazer com que esse "entretenimento" se torne algo maior do que ele realmente é, ou seja, um esporte. Não podemos esperar compreensão de rivais num mundo tão competitivo como o de hoje. Não podemos deixar que a tristeza de um simples jogo seja maior que a de milhares de mortos. A qualidade do nosso futebol depende do apoio que podemos dar e não do ódio, raiva e críticas constantes... isso não é bom para ninguém.

Música: Barbosa - Tabaré Cardozo




sábado, 8 de outubro de 2011

Paz Errázuriz: a fotógrafa dos marginalizados

Paz Errázuriz.
"As fotos fornecem um testemunho", diria Susan Sontag.  Quando alguém nos diz algo que não conseguimos enxergar, compreender ou acreditar, a foto parece facilitar esse entendimento. Impondo um determinado padrão ao seus temas, os fotógrafos podem buscar passar alguma mensagem ao público de um modo distinto de fotografias caseiras ou sem compromisso. Hoje, com o fácil acesso à uma câmera fotográfica, qualquer um pode praticar essa atividade como um simples passatempo. Essa situação "tornou" a fotografia mais vista como uma diversão. Essa atividade como "arte" é pouco difundida ao público no geral. Acabamos esquecendo que existem fotógrafos de profissão.

Usaremos como exemplo de fotógrafo profissional a chilena Paz Errázuriz. Nascida em 1966 (Santiago - Chile), se torna fotógrafa autodidata, especializando-se posteriormente na International Center of Photography, de New York. Começando seus trabalhos na década de 1980, Errázuriz busca apresentar as classes marginalizadas, aquelas que não recebem seu devido valor. Podemos observar em seu portfólio um grande fascínio pela imagem de idosos e pessoas com problemas mentais. Além disso, a chilena possui belas imagens sobre o circo e também sobre boxeadores.

Caso tenham interesse em conhecer as imagens, acesse o
site oficial com todas as obras: Paz Errázuriz (Site Oficial)

Algumas imagens da fotógrafa:






sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Isla Presidencial

Después de muchas diatribas
En una cumbre presidencial
Los líderes zarparon en un paseo oficial
Repentinamente, el cielo se nubló
El barco en el que iban, de pronto naufragó
Y así fue
Y así nació
La Isla Presidencial!


Fonte: islapresidencial.net

Este era para ser meu primeiro post no Várias Américas. Mas como nasci distraído e esquecido, deu no que deu. A Isla Presidencial talvez seja uma ótima representação do que se pensa da América Latina quando observamos as características de seus presidentes. O elemento caricatural encontrando em Evo Morales, Hugo Chávez ou Lula foi a base desse desenho venezuelano. A originalidade é fantástica: fazendo uma comparação com a série Lost, o desenho coloca todos os presidentes latino-americanos em uma ilha (com o formato do continente) e mostra o dia a dia deles nesse local.  Enquanto Uribe e Chávez tentam influenciar Lula, Evo Morales mostra sua grande paixão. Ainda existe Barack Obama ameaçando os moradores da ilha com suas técnicas de caça. Tudo isso ocorre porque, após a 74ª Reunião de líderes ibero-americanos, os presidentes se reúnem no barco de Lula, que acaba por bater em uma grande pedra.

A ideia é montar uma grande metáfora com a política externa e as personalidades dos presidentes. Não é muito difícil identificar essas características na vida real. Basta pensar na proximidade de Bolívia e Venezuela, nas tentativas de influenciar o Brasil ou nas aparições norte americanas, sempre de olho no que ocorre. Sem dúvida é um grande desenho, seja para rir, seja para analisar.

Muitos dos presidentes que são apresentados não fazem mais parte desse cargo nos seus países. É o caso de Michelle Bachelet e Alvaro Uribe. Consegui encontrar o primeiro episódio com legenda em português, mas as demais são apenas com o idioma espanhol. Logo abaixo no primeiro video está o link com o canal
oficial do Isla Presidencial para vcs terem acesso aos demais episódios.

 


Para assistir os outros episódios, clique link abaixo:

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Hugo Chávez + Twitter + Mídia: uma fórmula de sucesso

Chávez e Twitter.
Fonte da foto de Chávez:
Revista Portuária
A entrada do presidente venezuelano Hugo Chávez no twitter foi notícia mundial. Utilizando as redes sociais como mecanismo para ampliar sua campanha eleitoral, Chávez inicia seu microblog com grande popularidade já nos primeiros meses. É inegável a eficiência na política dessas novas redes sociais como twitter, proporcionando o contato direto entre o povo e seu governante. No caso do presidente venezuelano, o twitter não se limita apenas a legitimar seu ideal do "Socialismo do Século XXI", mas também para mostrar o "Chávez humano", aquele que torce pela seleção e possui fortes laços de amizade com Fidel Castro. Um bom exemplo é o post de junho/2011: "En verdad verdad, nuestra ¡Vinotinto ganó anoche! Paraguay no nos ganó ese juego. Tanto Fidel como yo vimos clarito el gol que nos quitaron" O ranking venezuelano de seguidores no twitter mantém o presidente Chávez ainda no topo, com 2,139,202. Mas essa forte liderança vem sendo, aos poucos, ameaçada por outros personagens menos "populares" fora do pais.

Como já afirmei em outro momento, nossos jornais esquecem que existem países ao nosso lado e que não fazemos fronteira com Europa ou Estados Unidos. Contudo, Hugo Chávez consegue transpor essa barreira e ser bastante comentado na mídia nacional. Já em jornais globais como New York Times ou El Pais, o presidente venezuelano parece ser "a própria" América Latina, de tanto que é falado ! No jornal espanhol, é difícil não encontrar alguma informação de Chávez na seção direcionada a notícias do nosso continente. Hoje mesmo, se acessarem, irão ver uma notícia com foto, publicada em 03/10/2011.



Para quem não sabe, o Chávez também possui um programa de televisão, chamado "Alo Presidente". O programa foi nasceu em 1999 e representa essa espécie de "culto" à própria imagem tão realizada pelo presidente. Inicialmente, a proposta era apenas atuar no rádio, mas já em 2000 passou a ser televisionado. Após a doença de Chávez ser diagnosticada, o programa foi interrompido para o tratamento do câncer. Além de ser muito engraçado, o programa venezuelano foi um meio de responder às críticas da mídia americana ao seu tipo de governo, tido como extremamente autoritário. Os telejornais americanos são adoradores da imagem de Chávez para fazer chacota ou criticas quando lhes faltam assunto.

Até então, a Venezuela era muito pouco conhecida e apenas associado à sua riqueza de petróleo. É certo que o pais se tornou visível quando Hugo Chávez entrou em cena, tornando-se um grande protagonista do país no cenário internacional. Sendo, um dos personagens mais conhecidos da América Latina, Chávez possui uma variedade de talentos que também aparecem nos blogs e programas de televisão.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O animado Kaseko: estilo musical popular do Suriname

A antiga Guyana Holandesa, atual Suriname, é um dos países menos conhecidos situados no nosso continente. Isso é quase um fato... Conheço pessoas que não sabem da existência desse pais e muito menos que ele faz fronteira com o Brasil. Normalmente países pequenos se fazem aparecer pela sua política externa ou através do esporte. O Suriname não possui presença forte em cúpulas multilaterais do continente sul-americano, além disso, não é destaque em esportes populares como futebol. Isso tudo só aumenta o mistério: o que tem lá ?

Como falava Albert Einstein: a curiosidade é mais importante do que o conhecimento. Então fui dar uma pesquisada e encontrei algo significativamente interessante ! Se chama Kaseko. Se vc estava procurando alguma música realmente animada para sua festa, esqueça agora essas bandinhas tipo Black Eyed Peas ou aquelas que tocam em rave. Prepare seu som pra tocar Kaseko Medley - Tumak Humak ! Ou quem sabe Cult-Soca-Medley ?

O Kaseko tornou-se popular também nos países baixos pelos fortes laços que o Suriname ainda mantém com a região. Sendo uma mistura de sons no qual os aspectos africanos e indígenas se destacam, o estilo usa e abusa de tambores e trombetas. Popularizado na década de 1970, o som possui fortes elementos da música caribenha, além de ser muito tocado em eventos comemorativos.  Segue abaixo algumas músicas encontradas no youtube. Confesso que foi difícil escolher pq gostei de quase todas rsrsrs...



 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

La Insolación - Horacio Quiroga

Horácio Quiroga
Fonte: cavalodeferro.com
A região do Cone Sul, principalmente Argentina e Uruguai, é muito forte na produção de contos de terror. Seja através de Julio Cortázar ou do próprio Horacio Quiroga, ambos os países tem alguma tradição nesse tipo de escrita. Diferentemente do argentino Cortázar, o uruguaio Quiroga baseou quase toda sua obra nesse estilo e na elaboração de contos, produzindo clássicos do terror latino americano como a La gallina degollada ou El almohadón de plumas.

A própria biografia de Quiroga é digna de uma obra de terror, como muitos suicidios registrados. Por esse mesmo motivo vou deixar pra explicá-la em outra ocasião, dedicando um artigo apenas pra isso. Quem já leu Allan Poe, verá sua forte influencia no uruguaio. Mesclando um cenário rural com personagens do campo, Quiroga forma contos de terror sempre se baseando na força da natureza e, consequentemente, a fraqueza do homem diante dela. Os elementos de loucura ou dor também sempre estão presentes.

Deixo abaixo um ótimo conto pra demonstrar essas características, chamado La insolación. Para quem tiver interesse em ler outros, o site que utilizei foi Ciudad Seva, que disponibiliza não apenas os contos de Quiroga, mas de vários autores do continente.

Horácio Quiroga - La insolación:

El cachorro Old salió por la puerta y atravesó el patio con paso recto y perezoso. Se detuvo en la linde del pasto, estiró al monte, entrecerrando los ojos, la nariz vibrátil, y se sentó tranquilo. Veía la monótona llanura del Chaco, con sus alternativas de campo y monte, monte y campo, sin más color que el crema del pasto y el negro del monte. Éste cerraba el horizonte, a doscientos metros, por tres lados de la chacra. Hacia el Oeste el campo se ensanchaba y extendía en abra, pero que la ineludible línea sombría enmarcaba a lo lejos.
A esa hora temprana, el confín, ofuscante de luz a mediodía, adquiría reposada nitidez. No había una nube ni un soplo de viento. Bajo la calma del cielo plateado el campo emanaba tónica frescura que traía al alma pensativa, ante la certeza de otro día de seca, melancolías de mejor compensado trabajo.
Milk, el padre del cachorro, cruzó a la vez el patio y se sentó al lado de aquél, con perezoso quejido de bienestar. Ambos permanecían inmóviles, pues aún no había moscas.
Old, que miraba hacía rato a la vera del monte, observó:
-La mañana es fresca.
Milk siguió la mirada del cachorro y quedó con la vista fija, parpadeando distraído. Después de un rato dijo:
-En aquel árbol hay dos halcones.
Volvieron la vista indiferente a un buey que pasaba y continuaron mirando por costumbre las cosas.
Entretanto, el Oriente comenzaba a empurpurarse en abanico, y el horizonte había perdido ya su matinal precisión. Milk cruzó las patas delanteras y al hacerlo sintió un leve dolor. Miró sus dedos sin moverse, decidiéndose por fin a olfatearlos. El día anterior se había sacado un pique, y en recuerdo de lo que había sufrido lamió extensamente el dedo enfermo.
-No podía caminar -exclamó en conclusión.
Old no comprendió a qué se refería. Milk agregó:
-Hay muchos piques.
Esta vez el cachorro comprendió. Y repuso por su cuenta, después de largo rato:
-Hay muchos piques.
Uno y otro callaron de nuevo, convencidos.
El sol salió, y en el primer baño de su luz, las pavas del monte lanzaron al aire puro el tumultuoso trompeteo de su charanga. Los perros, dorados al sol oblicuo, entornaron los ojos, dulcificando su molicie en beato pestañeo. Poco a poco la pareja aumentó con la llegada de los otros compañeros: Dick, el taciturno preferido; Prince, cuyo labio superior, partido por un coatí, dejaba ver los dientes, e Isondú, de nombre indígena. Los cinco foxterriers, tendidos y beatos de bienestar, durmieron.
Al cabo de una hora irguieron la cabeza; por el lado opuesto del bizarro rancho de dos pisos -el inferior de barro y el alto de madera, con corredores y baranda de chalet-, habían sentido los pasos de su dueño, que bajaba la escalera. Míster Jones, la toalla al hombro, se detuvo un momento en la esquina del rancho y miró el sol, alto ya. Tenía aún la mirada muerta y el labio pendiente tras su solitaria velada de whisky, más prolongada que las habituales.
Mientras se lavaba, los perros se acercaron y le olfatearon las botas, meneando con pereza el rabo. Como las fieras amaestradas, los perros conocen el menor indicio de borrachera en su amo. Alejáronse con lentitud a echarse de nuevo al sol. Pero el calor creciente les hizo presto abandonar aquél por la sombra de los corredores.
El día avanzaba igual a los precedentes de todo ese mes: seco, límpido, con catorce horas de sol calcinante que parecía mantener el cielo en fusión, y que en un instante resquebrajaba la tierra mojada en costras blanquecinas. Míster Jones fue a la chacra, miró el trabajo del día anterior y retornó al rancho. En toda esa mañana no hizo nada. Almorzó y subió a dormir la siesta.
Los peones volvieron a las dos a la carpición, no obstante la hora de fuego, pues los yuyos no dejaban el algodonal. Tras ellos fueron los perros, muy amigos del cultivo desde el invierno pasado, cuando aprendieron a disputar a los halcones los gusanos blancos que levantaba el arado. Cada perro se echó bajo un algodonero, acompañando con su jadeo los golpes sordos de la azada.
Entretanto el calor crecía. En el paisaje silencioso y encegueciente de sol, el aire vibraba a todos lados, dañando la vista. La tierra removida exhalaba vaho de horno, que los peones soportaban sobre la cabeza, envuelta hasta las orejas en el flotante pañuelo, con el mutismo de sus trabajos de chacra. Los perros cambiaban a cada rato de planta, en procura de más fresca sombra. Tendíanse a lo largo, pero la fatiga los obligaba a sentarse sobre las patas traseras, para respirar mejor.
Reverberaba ahora adelante de ellos un pequeño páramo de greda que ni siquiera se había intentado arar. Allí, el cachorro vio de pronto a Míster Jones que lo miraba fijamente, sentado sobre un tronco. Old se puso en pie meneando el rabo. Los otros levantáronse también, pero erizados.
-Es el patrón -dijo el cachorro, sorprendido de la actitud de aquéllos.
-No, no es él -replicó Dick.
Los cuatro perros estaban apiñados gruñendo sordamente, sin apartar los ojos de míster Jones, que continuaba inmóvil, mirándolos. El cachorro, incrédulo, fue a avanzar, pero Prince le mostró los dientes:
-No es él, es la Muerte.
El cachorro se erizó de miedo y retrocedió al grupo.
-¿Es el patrón muerto? -preguntó ansiosamente. Los otros, sin responderle, rompieron a ladrar con furia, siempre en actitud temerosa. Pero míster Jones se desvanecía ya en el aire ondulante.
Al oír los ladridos, los peones habían levantado la vista, sin distinguir nada. Giraron la cabeza para ver si había entrado algún caballo en la chacra, y se doblaron de nuevo.
Los foxterriers volvieron al paso al rancho. El cachorro, erizado aún, se adelantaba y retrocedía con cortos trotes nerviosos, y supo de la experiencia de sus compañeros que cuando una cosa va a morir, aparece antes.
-¿Y cómo saben que ése que vimos no era el patrón vivo? -preguntó.
-Porque no era él -le respondieron displicentes.
¡Luego la Muerte, y con ella el cambio de dueño, las miserias, las patadas, estaba sobre ellos! Pasaron el resto de la tarde al lado de su patrón, sombríos y alerta. Al menor ruido gruñían, sin saber hacia dónde.
Por fin el sol se hundió tras el negro palmar del arroyo, y en la calma de la noche plateada los perros se estacionaron alrededor del rancho, en cuyo piso alto míster Jones recomenzaba su velada de whisky. A media noche oyeron sus pasos, luego la caída de las botas en el piso de tablas, y la luz se apagó. Los perros, entonces, sintieron más el próximo cambio de dueño, y solos al pie de la casa dormida, comenzaron a llorar. Lloraban en coro, volcando sus sollozos convulsivos y secos, como masticados, en un aullido de desolación, que la voz cazadora de Prince sostenía, mientras los otros tomaban el sollozo de nuevo. El cachorro sólo podía ladrar. La noche avanzaba, y los cuatro perros de edad, agrupados a la luz de la luna, el hocico extendido e hinchado de lamentos -bien alimentados y acariciados por el dueño que iban a perder-, continuaban llorando a lo alto su doméstica miseria.
A la mañana siguiente míster Jones fue él mismo a buscar las mulas y las unció a la carpidora, trabajando hasta las nueve. No estaba satisfecho, sin embargo. Fuera de que la tierra no había sido nunca bien rastreada, las cuchillas no tenían filo, y con el paso rápido de las mulas, la carpidora saltaba. Volvió con ésta y afiló sus rejas; pero un tornillo en que ya al comprar la máquina había notado una falla, se rompió al armarla. Mandó un peón al obraje próximo, recomendándole cuidara del caballo, un buen animal, pero asoleado. Alzó la cabeza al sol fundente de mediodía, e insistió en que no galopara ni un momento. Almorzó en seguida y subió. Los perros, que en la mañana no habían dejado un segundo a su patrón, se quedaron en los corredores.
La siesta pesaba, agobiada de luz y silencio. Todo el contorno estaba brumoso por las quemazones. Alrededor del rancho la tierra blanquizca del patio, deslumbraba por el sol a plomo, parecía deformarse en trémulo hervor, que adormecía los ojos parpadeantes de los foxterriers.
-No ha aparecido más -dijo Milk.
Old, al oír aparecido, levantó vivamente las orejas. Incitado por la evocación el cachorro se puso en pie y ladró, buscando a qué. Al rato calló, entregándose con sus compañeros a su defensiva cacería de moscas.
-No vino más -agregó Isondú.
-Había una lagartija bajo el raigón -recordó por primera vez Prince.
Una gallina, el pico abierto y las alas apartadas del cuerpo, cruzó el patio incandescente con su pesado trote de calor. Prince la siguió perezosamente con la vista y saltó de golpe.
-¡Viene otra vez! -gritó.
Por el norte del patio avanzaba solo el caballo en que había ido el peón. Los perros se arquearon sobre las patas, ladrando con furia a la Muerte, que se acercaba. El caballo caminaba con la cabeza baja, aparentemente indeciso sobre el rumbo que debía seguir. Al pasar frente al rancho dio unos cuantos pasos en dirección al pozo, y se desvaneció progresivamente en la cruda luz.
Míster Jones bajó; no tenía sueño. Disponíase a proseguir el montaje de la carpidora, cuando vio llegar inesperadamente al peón a caballo. A pesar de su orden, tenía que haber galopado para volver a esa hora. Apenas libre y concluida su misión, el pobre caballo, en cuyos ijares era imposible contar los latidos, tembló agachando la cabeza, y cayó de costado. Míster Jones mandó a la chacra, todavía de sombrero y rebenque, al peón para no echarlo si continuaba oyendo sus jesuísticas disculpas.
Pero los perros estaban contentos. La Muerte, que buscaba a su patrón, se había conformado con el caballo. Sentíanse alegres, libres de preocupación, y en consecuencia disponíanse a ir a la chacra tras el peón, cuando oyeron a míster Jones que le gritaba pidiéndole el tornillo. No había tornillo: el almacén estaba cerrado, el encargado dormía, etc. Míster Jones, sin replicar, descolgó su casco y salió él mismo en busca del utensilio. Resistía el sol como un peón, y el paseo era maravilloso contra su mal humor.
Los perros salieron con él, pero se detuvieron a la sombra del primer algarrobo; hacía demasiado calor. Desde allí, firmes en las patas, el ceño contraído y atento, veían alejarse a su patrón. Al fin el temor a la soledad pudo más, y con agobiado trote siguieron tras él.
Míster Jones obtuvo su tornillo y volvió. Para acortar distancia, desde luego, evitando la polvorienta curva del camino, marchó en línea recta a su chacra. Llegó al riacho y se internó en el pajonal, el diluviano pajonal del Saladito, que ha crecido, secado y retoñado desde que hay paja en el mundo, sin conocer fuego. Las matas, arqueadas en bóveda a la altura del pecho, se entrelazan en bloques macizos. La tarea de cruzarlo, sería ya con día fresco, era muy dura a esa hora. Míster Jones lo atravesó, sin embargo, braceando entre la paja restallante y polvorienta por el barro que dejaban las crecientes, ahogado de fatiga y acres vahos de nitrato.
Salió por fin y se detuvo en la linde; pero era imposible permanecer quieto bajo ese sol y ese cansancio. Marchó de nuevo. Al calor quemante que crecía sin cesar desde tres días atrás, agregábase ahora el sofocamiento del tiempo descompuesto. El cielo estaba blanco y no se sentía un soplo de viento. El aire faltaba, con angustia cardíaca, que no permitía concluir la respiración.
Míster Jones adquirió el convencimiento de que había traspasado su límite de resistencia. Desde hacía rato le golpeaba en los oídos el latido de las carótidas. Sentíase en el aire, como si de dentro de la cabeza le empujaran el cráneo hacia arriba. Se mareaba mirando el pasto. Apresuró la marcha para acabar con eso de una vez... Y de pronto volvió en sí y se halló en distinto paraje: había caminado media cuadra sin darse cuenta de nada. Miró atrás, y la cabeza se le fue en un nuevo vértigo.
Entretanto, los perros seguían tras él, trotando con toda la lengua afuera. A veces, asfixiados, deteníanse en la sombra de un espartillo; se sentaban, precipitando su jadeo, para volver en seguida al tormento del sol. A1 fin, como la casa estaba ya próxima, apuraron el trote.
Fue en ese momento cuando Old, que iba adelante, vio tras el alambrado de la chacra a míster Jones, vestido de blanco, que caminaba hacia ellos. El cachorro, con súbito recuerdo, volvió la cabeza a su patrón, y confrontó.
-¡La Muerte, la Muerte! -aulló.
Los otros lo habían visto también, y ladraban erizados, y por un instante creyeron que se iba a equivocar; pero al llegar a cien metros se detuvo, miró el grupo con sus ojos celestes, y marchó adelante.
-¡Que no camine ligero el patrón! -exclamó Prince.
-¡Va a tropezar con él! -aullaron todos.
En efecto, el otro, tras breve hesitación, había avanzado, pero no directamente sobre ellos como antes, sino en línea oblicua y en apariencia errónea, pero que debía llevarlo justo al encuentro de míster Jones. Los perros comprendieron que esta vez todo concluía, porque su patrón continuaba caminando a igual paso como un autómata, sin darse cuenta de nada. El otro llegaba ya. Los perros hundieron el rabo y corrieron de costado, aullando. Pasó un segundo y el encuentro se produjo. Míster Jones se detuvo, giró sobre sí mismo y se desplomó.
Los peones, que lo vieron caer, lo llevaron a prisa al rancho, pero fue inútil toda el agua; murió sin volver en sí. Míster Moore, su hermano materno, fue allá desde Buenos Aires, estuvo una hora en la chacra, y en cuatro días liquidó todo, volviéndose en seguida al Sur. Los indios se repartieron los perros, que vivieron en adelante flacos y sarnosos, e iban todas las noches con hambriento sigilo a robar espigas de maíz en las chacras ajenas.

Fim